Ausência na Virada da Cultura, Presença na Cultura do Coração
Texto carregadérrimo de referências externas, legitimamente emocional, 2ª leva
Seis semanas (até mais?) desde um antológico reencontro há mais de quinze anos, desde um fortuito show no Centro Cultural São Paulo, do qual nem lembro os detalhes, só do Gero Camilo recitar “Sonetos de Shakespeare” quase uma década antes de repetir a dose em rede nacional no último episódio do Global “O Som e A Fúria”.
Esse reencontro num local generoso em acolhida e precarérrimo em condições a artistas e platéia, tão precário quanto a chuva, naquela noite tempestuosa, ter promovido seu próprio efeito especial involuntário ao adentrar sobre o pobre do artista, e meu primeiro pensamento durante aquele evento não foi nem a coragem de prosseguir o show mesmo sob condições tão adversas, risco de choque elétrico nada desprezível: meu pensamento foi “graças à providência, esse meu amigo adicionou esse chapéu panamá como indumentária de espetáculo!”.
Diversas postagens em Facebook depois dessa fatídica audição sob o temporal, cantei e me encantei saboreando praticamente cada sílaba das letras de música que sempre me emocionaram e continuam me emocionando, inclusive pela capacidade de expressar opiniões completas minhas acerca de fatos e causos da política e da cultura desse meu país.
Um certo lamentar por desconhecer as músicas mais recentes por parar de acompanhar sua carreira nos últimos cinco anos – ó meus destinos! como sou fissurado nas datas, eu podia ao menos fazer o favor de elencá-las corretamente! --, um lamentar obscurecido pela força das letras e do repertório que só vai até “Ei, Pasquale!” e onde “Encontrei Confiança!” acabei adotando como meu hino de batalha. No qual “antes do fim-do-mundo, mundo vai acabar” virou meu bordão favorito, naquela crença coachística e neurolingüística de que quanto mais eu repetir as ideias em tom de evocação e desejo, mais elas se afastarão de mim, daí eu exagerar com minha persistência no “é só tocar no ponto G da bomba H”, e naquele “o Profeta Gentileza fez questão de confirmar que tudo isso é só questão de tempo, é só questão de tempo para o tempo fechar”!
Um vínculo forjado em amizade e respeito profundo ao trabalho do outro, apesar de jamais ter mostrado os meus a nenhum de meus amigos à época da grande convivência -- rezam as más línguas que seria hoje stalkeamento e assédio moral, apesar dos shows serem espetáculos abertos a público (pagante ou não) e abraçar o afeto de fãs ser do interesse de qualquer artista de espetáculo envolvendo platéia (até os sem-palco) --, uma capacidade de utilização e difusão de ideias e pensamentos compartilhados, transformados em pequenas trincheiras de resistência ao lugar comum e obviedades, ao solapamento do livre-pensar sob a bota da mononarrativa fascista, onde transformamos toda opinião contrária à nossa (ênfase no pronome da primeira pessoa “nós”, me recuso a posar de santa ou de imune ao canto da leviatã) num belo dum inimigo figadal. Semanas dispersando belos libelos antifascista através de inspiradas letras de música, de inspiradas canções, via Facebook afora, quiçá um ou outro grupo de Whatsapp.
...e no entanto, ó fraqueza de gênero, ó lastimar de quem adora se escudar sob pretextos de gênero (Kleber é homem, as meninas das Orquídeas são mulheres, têm preferência) ou de número (é um só, elas são várias, escrever para várias de uma vez mais inspirador que escrever para um só!), eis que após um formidável show de reencontro delicioso numa manhã de domingo de uma virada cultural, após quinze minutos de conversa com uma amiga querida no WhatsApp, na terça de manhã escrevo o texto mais poético de toda a minha vida, e num gênero de escrita que jamais sonhei cometer um dia, o do relato cronístico -- com pinceladas poéticas. Dois dias de diferença entre texto e fato, apenas. Já o do show do Kleber e deste relato atual, seis semanas e meia, quase 45 dias, é vergonhoso, e assumi-lo como tal ajuda a minimizar o mimimi interior e o caráter de desfeita.
O show do Kleber Albuquerque havia acontecido numa sexta-feira, no espaço Cultural Tendal da Lapa, pelo menos cinco semanas antes da Virada Cultural de SP, e só agora reuni inspiração para este relato aqui que chega às suas mãos, praticamente uma promessa de campanha que meu eu bisonhamente sexista porém hilariamente hedonista me orgulho de cumprir. -- Ainda que esteja me segurando para não disparar frases feitas de efeito estilo “homem é foda, homem só pensa com o pinto mesmo, homem só consegue ser solidário com o gênero masculino quando não entra mulher na parada” e outras cretininhas assim --.
Oportuno que este meu amigo, para quem oscilei essa dubiedade, saindo da negligência e inclinando para a louvação, esteja lançando um novo trabalho, um novo disco agora, “Os Antidepressivos Vão Parar De Funcionar” (e que por problemas de agend$, eu mesmo não esteja podendo acompanhar novos shows e as novas músicas). Assim, aproveito para exortar você, que me lê, a procurar saber do que se trata, se vale a pena, se é tudo isso que afirmei ou se é apenas delírio de fã capaz de negar a realidade dos fatos, tornando uma simples opinião naquele desagradável evacuar de regras, indignas da sabedoria de um “...e eu nem ligava, guardava os mistérios em seu porão, trancava o meu mundo e me escondia no fundo do seu coração!”
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